14 de outubro de 2013

Ticiano, Amor sagrado e Amor profano, 1514

Ticiano,
Amor sagrado e Amor profano, 1514
Galeria Borghese, em Roma.



"Amor sagrado e Amor profano" de Ticiano (1490-1576) foi pintada para celebrar o casamento do veneziano Nicoló Aurélio (brasão no sarcófago) com a jovem viúva Laura Bagarotto, em 1514. Esta obra foi realizada em 1514, é uma pintura a óleo sobre tela, e foi encomendado por Niccolo Aurélio, então secretário do Conselho dos Dez, e mais tarde Grande Chanceler da Sereníssima, estado no nordeste da Itália, com capital em Veneza, que existiu entre o século IX e XVIII. Ao longo do tempo esta pintura de Ticiano foi conhecida por: Beleza sem ornamento e beleza ornamentada  (1613), Três amores  (1650), Mulher divina e profana  (1700)  e o actual título, Amor sagrado e amor profano  (1792 e 1833), resulta de uma interpretação de meados do século XVIII e que dá a esta obra uma leitura moralista de acordo com a filosofia Neoplatónica[1] que Ticiano e o seu círculo acreditavam. A consciência da perfeição divina da ordem do universo, atribuindo-lhes uma grandeza clássica, está bem patente na pintura onde não faltam as paisagens campestres que Ticiano exaltou reflectindo a delicada poesia lírica de Giovanni Bellini ou Giorgione. O Amor Sagrado e Profano de Ticiano é um ícone da Galleria Borghese. O Humanismo renascentista, a Antiguidade Clássica, a redescoberta de textos antigos são os principais factores para decifrar da obra de Ticiano  tão bem explícita no pensamento de Marsilio Ficino, segundo a qual a beleza terrena é um reflexo da beleza celestial e a sua contemplação é um prelúdio da sua consecução ultra-terrena numa alusão ao Symposium, diálogo de Platão, onde Pausanias fala de uma dupla de Vénus, a “celestial” e a “vulgar”.




[1] Erwin Panofsky: The Neoplatonic Movement in Florence and Northern Italy (Bandinelli and Titian), Studies in Iconology, Naturalistic Themes in the Art of the Renaissance, Oxford, 1939, reprinted 1962, p.152